O DESAFIO MÁGICO DAS OFICINAS
Contar historias para despertar o leitor adormecido.Eis o meu desafio, caro leitor. Sou jornalista, cantora e arte-educadora, ministrante da Oficina " A ARTE DE CONTAR HISTÓRIAS E DINAMIZAR A LEITURA NA SALA DE AULA". No início a Oficina era ministrada por mim e Márcia Evelin, ambas do Grupo Cafundó, criador e realizador do projeto. Posteriormente ficou sob a batuta da minha varinha de condão, como a "Fada Ouro". Marcia Evelin, a " Fada Prata", precisou viajar por novos condados.
A Oficina é realizada há cinco anos no SENAC-PI, sob a coordenação do Departamento de Tecnologia Educacional. Turmas oscilam entre vinte, trinta e até quarenta pessoas, a maioria professores do ensino fundamental e estudantes de pedagogia. Como todo trabalho com um objetivo audacioso - Contar e ler pra que?-, carregando uma bagagem artesanal e um manancial de técnicas e segredos preciosos; a participação, a apreensão e os resultados obtidos a cada final de Oficina são surpreendentes. Todos querem reaprender a sonhar!! Sim!! O mundo não oferece sonho! O mundo vende sonho - tudo prontinho, bonitinho, a galinha pintadinha, A Xuxa com sua eterna síndrome de infantilização... Não! Nada de novo no castelo do sonho! Nada de novo na apreensão da realidade em busca de novos rumos para ouvir, imaginar e reverberar a fantasia!
Então os alunos se aglomeram com olhos curiosos. Querem saber o que vai acontecer. Os alunos dos alunos teimam em não querer ler. Alguns gostam de histórias, outros, não. A maioria vive ligada no celular, no tablet e coisas afins. O que será que a ministrante vai apresentar como alternativa para tanta mesmice e obsessão tecnológica? Quais historias vai contar? Que mágica será utilizada para cutucar quem dorme um sono virtual? É possível ser um bom contador de histórias? É possível "fisgar" o aluno em meio ao barulho e a distração? É admissível arrastá-lo para os livros com o mínimo de interesse e boa vontade? Ou tudo isso é um truque? Afinal, o contador de histórias ainda é um mistério a ser decifrado. A profissão de contador ainda não está inserida no contexto das profissões ditas "normais" ou " comuns".
Depois de tantos anos ministrando a Oficina devo confessar que sinto um frio na barriga cada vez que entro numa sala do SENAC, canto o "Tema do Cafundó" e me preparo para o " Era uma vez". É um desafio mágico que não cessa de ser mágico e não cessa de ser desafio. As vezes, tremo nas pernas, como na mais recente, quando realizamos a Oficina no quarto andar, depois de subir um escada interminável, parecida com aquela da torre mais alta do castelo .Mesmo sem fôlego, pensar no castelo ajudou bastante. " VOU MINISTRAR A OFICINA NA TORRE DO CASTELO DA RAINHA INVEJOSA!! - disse eu aos alunos que ficaram animados e com olhos entre curiosos e brilhantes. " Rapunzel" mostrou ser possível jogar as tranças. Foi criada a ponte entre o real e o imaginário.
Será tão simples como parece ser? Claro que não. Contar histórias e conduzir o fio da narrativa e do imaginário à realidade dos livros e da leitura sistemática não é fácil porque tal proeza não se processa no pragmatismo desse mundo. É um fio que vai aos poucos se desfazendo pela autoconfiança do contador, pelo olho no olho, pela intuição, pela surpresa - o contador vai tirando pouco a pouco o coelho da cartola. Quem viu, viu. Quem não viu, não viu. Mas quem viu enxerga e capta significados preciosos em cada gesto e palavra.
A Apostila, os textos adicionais e adereços demonstram que o preparo de cada Oficina é especial, específico, cuidadoso, sério e sujeito a imprevisibilidades. Nessa arte o imprevisto é tão comum quanto estimulante. Nunca sabemos qual é a intenção do aluno mas podemos captá-la pelo olhar, pelas perguntas e até mesmo pelo silencio. Há alunos ávidos. Há alunos discretos. Há alunos que parecem estar distantes, mas num simples gesto o suposto desinteresse se desfaz. Seu problema? Timidez. Mas um bom contador de histórias pode ser a princípio uma espécie de "criado- mudo". Um salamaleque da ministrante pode fazê-lo sair do mutismo. É por isso que não se ensina ninguém a ser um contador de histórias. Joga-se as sementes. Joga-se os pedacinhos de pão de " João e Maria". O aluno que corra para fazer sua parte. Do seu jeito. À seu modo. Nenhum contador de histórias é igual a outro.
O maior objetivo da Oficina é trabalhar a oralidade e a leitura , criando uma espécie de intimidade ou cumplicidade entre ambas. É claro que existem dinâmicas, cantigas de roda, etc. Mas são essas duas vertentes que ampliam o senso crítico, abrem novas portas na apreensão dos sentidos e desvelam as múltiplas formas de ver o mundo.Além de um bom leitor, o aluno/professor/contador de histórias precisa ser reflexivo,crítico e menos infantilizado, sem aquela mania de chamar história de "historinha" e as dinâmicas de "brincadeirinha".
Vou dizer uma coisa à você. Não vou falar mais nada sobre a Oficina. É segredo cafundolês! A chave está com o sapo que mora no fundo do poço daquela fazenda. Lembra? Pode ser que o sapo esteja na edição da próxima Oficina. Então, não perca! Estou esperando!
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