MENINO DO CONGO: A RIQUEZA DE MANTERMOS VIVA NOSSA ANCESTRALIDADE - por Márcia Evelin


Ontem, dia 19 de março de 2022 lançamos oficialmente o livro, MENINO DO CONGO, editado pela @editoranovaaliança, para crianças de todo o mundo. O evento aconteceu na Casa das Associações Estudante Firmino Filho, em Teresina (PI), através da RAIO DE SOL, projeto infantil da SOL – Sociedade Literária de Teresina e Livraria Entrelivros. Indiscutivelmente, a editora Nova Aliança é a editora que mais edita literatura piauiense. Há exatamente 21 anos produz e comercializa livros, além de estimular a leitura e a criação literária. Menino do Congo é  o meu quarto livro solo pela Editora. Antes dele vieram O Boi do Piauí (2015;2021); O Segredo da Chita Voadora (2017); A Flor do Pequeno Principezinho (2019) e os livros escritos em parceria: Sou mulher negra do quilombo, sim senhor! (2019), com a profa Silvana Pantoja (pela EDUEMA) e Ágata e a Saúde da Mulher (2019), com o Dr Luis Ayrton Santos Jr.

A escrita de um livro literário pode ser incentivada por vários motivos. O livro, Menino do Congo, nasce como um presente de gratidão ao Grupo dos Congos da cidade de Oeiras (PI), manifestação cultural de matriz africana, cantada e dançada pelos congueiros do bairro do Rosário, os “negros do Rosário” como se orgulham de falar.

Durante todo o ano de 2010-12 realizei pesquisa de mestrado pelo PPGeL/UFPI com os integrantes deste grupo cultural, mais especificamente com os brincantes mirins, os Conguinhos, meninos que se transformaram em meus co-pesquisadores. Juntos buscamos despertar e visibilizar laços de matriz cultural africana em suas vidas e na dos moradores do bairro do Rosário, através da tradição oral, na realização das Rodas de Histórias e Memórias e da literatura infantil, com as oficinas de leitura de livros infantis que traziam personagens negros como protagonistas, com o Baú África-Brasil. Nesse caminhar junto deles pude sentir, viver e experienciar a força do grupo dos Congos, que vai muito além de uma simples representação, mas figura-se como um ritual e um modo próprio de viver e interagir com a sociedade.

Muitos dos meninos dos Conguinhos com quem trabalhei nasceram e se criaram dentro desse universo, já fazendo parte da 3ª geração dos Congos. Ao escrever Menino do Congo pensei em descrever o ritual em forma de prosa poética, tendo como fio condutor da narrativa um menino brincante dos Congos de Oeiras (PI) que permeia cada cena da história, pulando de página em página e nos convida a não o perder de vista e viver com ele a descoberta de ser um congueiro e ter a missão de passar esses ensinamentos para as novas gerações.

O título, propositalmente, traz uma ambiguidade, já que o ritual tem suas origens no continente africano. Inicialmente, o leitor pode pensar que se trata da história de um menino que vive no Congo (país africano), quando na verdade vai falar do ritual do Congado da cidade de Oeiras (PI).

Duas frases se repetem em vários momentos da história: E o menino? e Ele conhece essa história mais do que ninguém, mas vale a pena lembrar contribuindo para que o leitor esteja sempre atento e não esqueça qual o propósito da leitura, numa maior interação com a narrativa.

Dançada em vários cantos do Brasil o ritual da Dança dos Congos, Congado ou Congada, como é conhecida pelas particularidades que ganha em cada região do Brasil é uma manifestação cultural afro-brasileira, um auto-dramático-religioso, de origem banto-católica, em que os brincantes cantam, dançam e dramatizam, um ritual-louvação a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, revelando o sincretismo religioso brasileiro. Além dos brincantes, que se responsabilizam pelas músicas e danças, o Auto traz a cena o Rei, que defende a fé do seu povo; a Ordenança, que protege o Rei; o Secretário, que transmite as ordens e mensagens do Rei e o Embaixador, que chega de outras terras para questionar a crença do Rei.

 O texto mantem diálogo constante com as belas ilustrações da jovem artista plástica Aline Guimarães, artista das danças e das tintas, professora de danças afro-brasileiras, que transfere para sua arte toda a ancestralidade africana que lhe habita, o que comprova que a escolha para ilustrar a história não foi à toa. Para bem dizer, com ela eu fiquei tranquila quanto a representação dos personagens do livro.

O livro traz uma novidade tecnológica. Apontando seu celular para o QR Code, presente na contracapa do livro, você será direcionado para o meu canal no you tube, onde as músicas da Dança dos Congos de Oeiras estão hospedadas, cantadas pelos congueiros: Flávio Antônio Mendes da Silva (Presidente dos Congos de Oeiras), Alesson Antônio Mendes de Morais Silva e Francisco Danilo de Sousa que vieram de Oeiras para uma participação especial na contação da história, durante o lançamento.

Espero que essa dança-ritual, com as particularidades que ganhou em solo piauiense, seja dançada por várias gerações, passando de pai para filho, com força e vitalidade. Que este auto ritual esteja presente em todas as escolas do nosso estado, do Brasil, quiçá do mundo. É o MENINO DO CONGO quem vai nos mostrar a riqueza de mantermos viva nossa ancestralidade. Que não esqueçamos de respeitar e apreciar a cultura dos Congos de Oeiras e de outras manifestações culturais de matriz africana que afloram em cada canto do nosso estado e do nosso país, basta abrirmos os nossos olhos e nossos corações para descobrirmos!

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS a: @leonardodias5871 e toda a equipe da @editoranovaalianca e @entrelivroslivraria, ao @colegiodiocesano, a @prefeituradeoeiraspi, na pessoa da secretaria de educação, @tianatapety, a @lineaaaa_ (ilustradora), a @jorgetsm (designer gráfico), aos amigos dos #congosdeoeiras, ao Dudu (do estúdio MWM, em Oeiras), a @dilsonlages, aos amigos da @sociedadeliterariasol, @asfulodosertao a minha filha @tauanaqueiroz, a @isabelaalvesca, a @vitorcanejo (imagens), a meus primeiros leitores, Davi Lucas e Miguel, a meus pais e demais familiares e a todos os amigos(as), professores(as), orientador, ex-alunos(as) e tantos outros(as) que celebraram comigo o nascimento do livro Menino do Congo, meu muito obrigada!


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Para saber mais sobre o livro Menino do Congo:

Entrevista Portal Entretextos - Dilson Lages https://www.portalentretextos.com.br/post/nova-alianca-publica-o-menino-congo-de-marcia-evelin


Sarau 16 - Otávio César https://www.youtube.com/watch?v=rw4ln2r_u2c


Se encontre nas fotos (@vitorcanejo) do evento. Link com todas as fotos  https://1drv.ms/f/s!ApOCucew04ztoMtozXbv-qxbKZb8Dg




Flávio Silva, presidente dos Congos de Oeiras, em apresentação

Congos de Oeiras: Fé e devoção

A alegria dos congueiros de Oeiras

Márcia Evelin em autógrafos do livro
  
Márcia Evelin (autora) e Aline Guimarães (ilustradora) fazendo a festa com os Congos



As Fulô do Sertão também marcaram presença no evento


                                                                    Flyer do lançamento

Comentários

Maravilhoso seu trabalho 👏🏼👏🏼👏🏼

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