A CLAREIRA DAS HISTÓRIAS
Um clarão súbito surge dentro de nós
quando ouvimos histórias. É como uma fagulha abrindo espaço no nosso ser
interno. Algo é despertado em nós, algo muito antigo que adormeceu por obra da
magia de alguma fada má. Despertamos do sono de cem anos? Por que agora e só
agora nos descobrimos como seres sábios e dispostos a espalhar uma sabedoria do
tempo em que o tempo ainda não existia?
Não sabemos. A arte de contar histórias é
misteriosa, anda certo por linhas tortas, escreve trilhas que são retomadas,
abre horizontes, entre eles, o da escuta e da leitura como expansão de uma
sabedoria e de uma maneira de ser e viver insuflada pelo frenesi da ação
criativa.
Contar histórias é criar e recriar o tempo
todo, não só no ambiente em que vivemos mas principalmente na nossa clareira,
aquela que acendemos com a fagulha. E o melhor de tudo é que alguma fada boa
vem nos despertar suavemente com a varinha da condão, a fada má se afasta,
enraivecida, e então voltamos a brilhar e vibrar em comunhão com o presente e
com o passado daqueles que vieram antes de nós.
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